Zara Tempo e o Camugerê - AGOLONÃ
Conception
A exposição, “Zara Tempo e o Camugerê!” nasce de uma motivação ancestral e flui, diretamente, tanto para o campo da idealização imagética quanto sensitiva, tendo como fonte um lugar adimensional onde deitam as paredes da memória, que é um quilombo, um lugar de possibilidades, através das reflexões e emanações do tempo (orixá Iroko) e o seu eixo existencial e conjuntural. A projeção do estar onde a liberdade e a ancestralidade coexistem no mesmo princípio, uma teia que dança com elementos do imaginário, dos gestos onde a honra e os atos ancestrais acertam a minha essência, como ser ativo nesta persecução, que assim como o tempo são fragmentos de espirais em construção.
Na verdade essa é a porta de entrada para uma série de três exposições que representam os caminhos percorridos até a “conclusão” da transposição ao Camugerê, que estão assim divididas:
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Essa primeira parada da excursão, "Zara Tempo e o Camugerê", é a porta de entrada em reverência a Agolonã, que em Iorubá representa a junção de Agô(licença) e Lonã ou Lonan (qualidade de exu) ou seja, pedimos licença a Exu para começarmos os trabalhos.
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Entremeando essa tríade temos o momento de celebrar, justamente, o Zara Tempo e o Camugerê, estampando a sua reverência a Orisun Omi Orisun Emi ( A fonte de água e a fonte da alma).
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O epílogo de Zara Tempo e o Novo Camugerê! Perpassa por uma reverência a Ajija, que representa o caminho espiral, os contornos da volta ao mundo, o xirê.
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Mananciais Artísticos Zaratempo
Minha arte tem como objetivo expressar a relação dos elementos da natureza e a sua cosmovisão através da troca de energias do Ori(Cabeça) com o Aiye (Terra em que vivemos) estando integrada as infinitas nascentes do Orum (Lugar onde vivem os orixás e encantados). Busco representar o instante da captação de movimentos através do eixo temporal acronológico e a partir desse momento contar histórias, prospecções, reflexões e fragmentos deste - não - lugar.
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O meu labor na materialização das obras é, justamente, a síntese de diversas técnicas visuais, desde desenhos, recortes até pinturas com diferentes matizes de tonalização, dando significado a formas e texturas de relevo, utilizadas para formar pergaminhos de repercussão para os portais do Camugerê, uma miscelânea de fluxogramas. O desenho, na maioria das vezes, é o tônus inicial da criação, revelando os elementos naturais e os seres míticos que vivem fora e dentro de mim, já as cores usadas estão mais ligadas a memória eidética ancestral, a memória extrassensorial, a intenção com esse misto de possibilidades é a busca pela total liberdade do fazer artístico, para que essas funções técnicas se invertam, criando um contraponto entre energia cósmica/ancestral e matéria radiante, trazendo a perspectiva de um fluxograma onde os elementos se completam e se disspam, interligados.
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Obras

Cabeçalho 1
Agolonã
A Obra Agolonã retrata a experiência sensitiva de conexão com a consciência através da perspectiva ancestral, tendo como portadoras deste conhecimento Exu e Exua nos seus pólos masculino e feminino. Nesse caso, a energia que incendiou o processo foi a de uma Exua, feminina, regida pela energia de Oyá, uma entidade familiar que mutuamente resguarda as minhas vivências e abre o portal das minhas perspectivas, seja do lado controverso das idas e vindas ou do encontro que em cruza ilhada atravessam o cotidiano, sempre em oposição a norma .
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Acaba entrando na ordem do despertar para a vida e da relação dos orixás Exu e Iroko (tempo) , mas não um momento unificado, são experiências infinitas que se entrelaçam na história. No Agolonã tudo gira, as cores invadem os lugares não respeitando qualquer institucionalidade e a existência se integra aos antepassados e seus respectivos elementos, refletindo o ensejo onde as energias cósmicas se conectam com a herança ancestral de forma coletiva, é rito e visão oracular.
*56 x 79 cm. Técnicas: Pintura em acrílico e foto colagem.
Camugerê, ato 1
Camugerê é o mergulho no horizonte da maré, é a celebração onírica da experiência de existência com seus ápices oscilantes. Camugerê não é um lugar físico, é adimensional, expressa a necessidade de retorno a uma experiência guiada pelos Orixás.
O meu trabalho nessa obra foi conceber uma busca pela representação da topografia cósmica, ou seja, uma análise do terreno macroscópico do cosmos, revelado no transcorrer da obra como uma espécie de pergaminho para Camugerê, portanto se trata de uma imersão sensorial nas camadas embrionárias e de condensação energética ancestral expostas na tela, é o primeiro ato. Representa os aglomerados de vidas variadas que conectam a existência ao ser integral e elementar, Ori. Essa catarse floresce, interna e externamente, evocada pela busca da reconfiguração histórica tendo como guias a ancestralidade e a necessidade coletiva do reencontro com a integralidade da vida e da memória.
O que me moveu, como desafio primordial, foi a possibilidade da biointegração ancestral(integridade da vida com a conexão elementar) em contraponto a uma estrutura social fundamentada em exploração territorial, genocidio e necro memória sustentada pelo conceito de acúmulo infinito de riqueza que gera escassez da vida e da base da biointegração, tendo em vista que o consumo exacerbado sobrepõe a quantidade ao tempo de regeneração dos elementos naturais e afeta diretamente a dinâmica do Axé.

*39 x 59 cm. Técnicas: Pintura em acrílico e foto colagem.

Absurdos matemáticos.
Essa obra nasce para representar fragmentos das diversas decodificações, não binárias, dos fluxogramas enérgeticos através da composição das forças como reflexo, assimétrico, organizacional da natureza no "momento" em que atravessa a fonte da existência pelos odus (caminhos do orixa Orunmila Ifá) concatenada e tendo como referência Gaurav Khana doutor em física e professor pela Universidade de Massachusetts, que se atentou para a representação do buraco negro como um portal, pela sua matéria volátil rotativa.
*60 x 90 cm. Técnicas: Foto colagem, pintura em acrílico e desenho livre.
Yá Omi, Ato 1
Este trabalho é fruto da relação com as formulações assimétricas, com o limbo do segredo, com a cabeça do universo, cabeça de água, quem é a pedra? Pergunte a Yá Omi! Olhos ensopados para cada vez que a natureza não se revela em seu mistério, feitiço translúcido, labirinto sem fronteira, não fez isso para te perder, acolheu, curou. A senhora com seu manto untado pela névoa, maré rasa naquele imenso banco de areia, me deu uma bola de gude enquanto comprava balas na vendinha, um pequeno casebre, era início de manhã, seu olho miraculoso de gude... De volta às margens, aos sonhos, pedregulho verde fluorescente, pétalas fonte e o pé de alfazema pontilhado de luzes enfeitou meu caminho. Meu cordão umbilical pinta o universo com os tons mais belos, desmontando o que é belo a cada milissegundo de não tempo que tento acompanhar com a alma dos olhos, o que descrever? O que descrever do silêncio? Propagações assimétricas do meu ori, propagações de água. A senhora do cajado.

*33 x 44 cm. Técnicas: Foto colagem, pintura em acrílico e desenho livre.
Zara Tempo.

A composição "Zara Tempo”, elaborada por meu avô, Batatinha, despertou algo no meu olhar que me fez reverenciar o tempo como um vetor/guardião nessa trilha que aponta para um caminho de reencontro, nesse caminho eu pude observar e interagir com o seu íntimo em relação ao coletivo/mundo. Fui no cerne da história e naveguei por todas as minúcias de sua melodia, as trajetórias eram como chaves que abriam portas específicas no decorrer do tempo, as harmonias encontradas pelo caminho eram fragmentos arrítmicos de existência, toda essa epifania de sensações me levou a esta obra, não só a obra como toda a exposição. Zara Tempo foi quem me deu escopo para representar estas simbologias de caminho, em formas de pergaminhos simbólicos. que se desdobraram numa imersão sensorial revelada por Exu, dono das chaves e trajetos de Agolonã.
Por isso Zara Tempo representa as impressões que revelam o encontro (Agolonã), ou seja, Exu em sua visceralidade formando fluxogramas de ressonância micelares pulsando e traçando o caminho, conduzindo ao eixo que nos conecta a Ori, a nossa essência Orixá, as órbitas ancestrais que mapeiam o nosso caminho. É a mola propulsora de energia que reflete interna e externamente o som nas cores, nas formas, nas texturas, no infinito e dentro dos intervalos que impulsionam, Exu movimento!
*39 x 59 cm. Técnica: Pintura em acrílico.
Redemoinho
Redemoinho, fresta de luz em seu invólucro, é a distribuição dos fractais elementares de Orunmila que observa a projeção nos versos e na memória ancestral sobre os respectivos caminhos. O olhar sutil, do canto do olho, que se contorce no contorno da bússola mistério, sedimentado por Iroko agindo na transgressão, no fluxo e no transbordar sobre as veias da gira de Exua, guardiã bateria, recarga do universo.

*44 x 59 cm. Técnicas: Foto colagem e pintura em acrílico.

Engenharia cósmica paradoxal
Reflete o movimento dos satélites sensitivos básicos humanos, Oris, na canalização do pulsar cósmico tendo Olodumare como vetor essencial dos elementos. Se trata de uma relação gradual de desgaste, modulação e sobrecarga desses satélites em detrimento da exploração ambiental na sociedade hegemônica e colonizadora branca, moldada através do crescimento exacerbado, da industrialização e mecanização dos processos. Olodumare, por outro lado, perfaz o caminho de volta, fortalecendo o surgimento da regeneração e ressonância harmônica pelos satélites (Oris), permitindo a sensitiva captação do universo em expansão.
*66 x 94 cm. Técnicas: Foto colagem, pintura em acrílico e desenho livre.
A pontilha das penas
Trata-se de dois segmentos antagônicas no processo histórico: a integração aos elementos naturais como uma relação de simbiose vital com a biosfera, os seios que nutrem a terra através das energias que movimentam a visão oracular que estão diretamente integrados aos ritos de transmutação e, simultaneamente, erguidos em contraponto a colonização que explora e destrói grande parte dessa mesma biosfera, resultando numa problemática ao bem viver dos povos originários e a ameaça iminente de extermínio de toda vida no planeta.

*40 x 55 cm. Técnicas: Pintura em acrílico, foto colagem e costura com lã
Claustrofobia Imperialista e a prisão do medo!
Um vitral de sentimentos num cenário real de opressões das mais diversas, refletindo essa época onde o medo é o toque mais sensitivo da pele, cara a cara com a agonia em meio a um ambiente degradado e toda espécie de doenças produzidas pelo imperialismo econômico (perseguição institucional, violência física e sensorial, vírus mutáveis). Um pesar a todo o lixo que nos engole, a poluição sonora e visual que nos acompanha. Um epitáfio por nos tornamos alvo dessa estrutura ao simplesmente nascermos e vivenciarmos a constante vulnerabilidade física e psicossocial, uma catarse, um impulso onde a mola propulsora é o não, não mais.
